domingo, 4 de outubro de 2009

Sempre

Há pouco mais de dois meses (precisamente no último dia 3 de agosto), escrevi sobre As minhas reinações e sobre o desejo de organizar as viagens que ficaram pra trás, registrando e compartilhando, neste blog, impressões e informações a respeito delas.

O tempo passou e, embora a vontade de escrever e dividir esteja cada vez maior, os posts escritos nos últimos meses não chegam a dar conta de um terço do que eu gostaria de compartilhar com vocês.

Dentro e fora do meu universo interior, desde sempre permeado por galáxias em transformação, outras trips rolaram, perspectivas e projetos mudaram, fichas caíram e, entre elas, uma que me fez perceber o equívoco que cometi ao escrever, naquele 3 de agosto, quando fiz referência às viagens que já haviam rolado, a expressão "as que ficaram pra trás".

A verdade é que uma viagem nunca fica pra trás. Viagens colocam nossos limites à prova, nos fazem ver e perceber as inúmeras possibilidades da existência, nos tiram do eixo e alteram radicalmente nossas perspectivas, nos tornam mais seguros e confiantes e, o principal, contribuem para a superação do medo que todos nós temos da vida. Viagens abrem as nossas portas e as alheias, nos fazem pessoas mais tolerantes e resistentes. Grudam e passam a fazer parte do nosso ser. Viajar nos faz transcender.

Se você é do tipo que gosta de metáforas, creio que a utilizada pelo escritor Haruki Murakami para descrever a sensação subsequente ao término de uma ultramaratona em seu livro autobiográfico
What I Talk About When I Talk About Running seja bastante apropriada para expressar os efeitos que as viagens podem ter sobre nós. Após onze horas e quarenta e dois minutos de prova, Murakami compara seus sentimentos de felicidade e alívio ao afrouxamento gradual de um nó apertado que estava dentro dele, mas do qual ele até então nunca havia se dado conta.

Transpondo a metáfora do escritor e corredor para o universo dos viajantes, não importa quantos ou de que natureza sejam os nós que carregamos conosco: justamente por não ficarem pra trás, as viagens têm o poder inexorável de afrouxá-los e, até mesmo, desmanchá-los.

No cair das fichas, tenho notado que, à medida que as lembranças de momentos carregados de beleza e emoção vividos durante as viagens tomam conta de mim nas circunstâncias mais improváveis do cotidiano, muitos dos meus nós acabam se desfazendo.

Nessas horas, olhando pro céu, pras galáxias em festa do meu universo interior ou pro brilho dos olhos de quem me devolve a paz com palavras semelhantes, sorrio e ouço o Chico cantar a vida, da única forma como eu a compreendo:

"Dura a vida alguns instantes
Porém mais do que bastantes
Quando cada instante é sempre"*

* Trecho de Sempre, música de Chico Buarque.

P.S. Às vésperas de duas trips especiais, não desisti de tentar organizar as que já estão grudadas em mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário