sexta-feira, 3 de março de 2017

Boston - parte 1

Boston

Duas frases surgem imediatamente na minha cabeça quando penso em Boston: "Adorei!" e "Dois dias foi pouco."

Boston foi uma bonus track num disco cujo tema era Nova York. Talvez seja algum desvio de personalidade ou coisa do gênero, mas acho estranho viajar e conhecer uma só cidade (mesmo que essa cidade seja Nova York). Assim, para satisfazer minha mania e pensando que essa seria uma boa faixa bônus para aquele disco, inseri dois dias em Boston no final da viagem.

Logo no começo do percurso do trem de Nova York para Boston percebi que havia feito a escolha certa. Coloquei os fones de ouvido e passei o tempo todo olhando pela janela ao invés de imergir em um dos livros que carregava comigo. Lá fora a paisagem era mais bonita do que eu esperava e dentro de mim, Smile, de Cole Porter, interpretada por John Pizzarelli e reproduzida nos fones que estavam nos meus ouvidos, soava mais extraordinária que o habitual. Naqueles dias em Nova York eu havia lido O sal da vida, de Françoise Héritier, e ainda dentro do trem não pude conter um sorriso ao perceber que aqueles momentos estavam carregados desse sal que dá tempero à vida e cujo sabor sinto até hoje.

Na chegada notei algo diferente e demorei alguns minutos para entender o que estava acontecendo. Eu respirava melhor e estava mais solta porque, claro, havia relaxado! Enquanto Nova York é aquela loucura de sons, carros, luzes, pessoas apressadas falando ao celular, lojas que funcionam como ímãs, comida aqui e acolá, mais pessoas apressadas olhando para os seus celulares, muitas atrações para pouco tempo, turistas por todos os lados, Boston é menor e mais tranquila (mas nada provinciana), o que foi apreendido rapidamente pelo meu corpo.

Ainda estava claro quando desembarquei na South Station, que fica a uma pequena caminhada do HI Boston, onde me hospedei e cuja estrutura e localização são formidáveis. Após os trâmites da chegada e de um bom banho fui dar um rolê pelos arredores e procurar um lugar para comer.

Eu tinha em mente o Legal Sea Foods cuja forte recomendação recebi de um californiano habitué da costa leste enquanto dividíamos um pedaço do disputado balcão do Lobster Place, no Chelsea Market, em Nova York, e compartilhávamos impressões sobre as patas de king crab que tínhamos diante de nós.

No começo da caminhada passei por um restaurante tailandês para o qual fingi não dar muita bola. Segui em frente e não demorou muito para eu topar com uma unidade do Legal Sea Foods, que continha implícita a promessa certeira de uma noite agradável com sabor de maresia. Para minha própria surpresa, não entrei.

Meio titubeante, dei meia-volta e parei na porta do Montien Thai Restaurant, o restaurante tailandês para o qual eu havia fingido não estar nem aí, mas que havia despertado em mim uma espécie de pensamento obsessivo: pato. Crispy duck, com aquela carne tenra por dentro e crocante por fora. Havia uma crítica de jornal afixada na entrada e uma onda de excitação cruzou meu corpo quando vi que o texto mencionava justamente o duck de maneira muito positiva. Simultaneamente, uma das partes de um casal que estava chegando no local e que provavelmente percebeu meu misto de interesse e hesitação me disse, como quem não quer nada, que a comida era ótima. A partir daí não pude mais ignorar os sinais que prometiam uma noitada feliz em companhia do pato e, resoluta, entrei.

Minha segurança durou pouco. Ao correr os olhos pelo cardápio deparei não com um, mas com dois patos interessantes: Crispy Duck ou Chili-Chili Duck? Ambos pareciam tão bons, cada um com suas potencialidades... Incapaz de decidir, deixei a escolha aos cuidados da garçonete que estava me atendendo e de Crispy Duck eu fui.

O resultado é que bastou provar a primeira garfada do pato para que eu esquecesse de vez durante aquela noite as maravilhas gastronômicas que o mar pode proporcionar. Quando levantei da mesa para deixar o restaurante o casal da entrada discretamente acenou e perguntou se eu havia gostado. Boston estava só começando, mas já tinha me ganhado.

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