sábado, 18 de março de 2017

Médecin de campagne

Uma sequência onde se ouve um cover de Hallelujah, de Leonard Cohen, e a eclosão da voz de Nina Simone cantando Wild is the Wind num momento em que Nina e o piano, sempre tão poderosos, não roubam a cena mas harmonizam-se com ela, produzindo um sorriso, eventualmente algumas lágrimas e uma sensação de terna satisfação no telespectador que havia entrado desavisado na sala de cinema certamente foram dois toques especialíssimos que me fizeram apreciar enormemente Insubstituível (Médecin de campagne), mas não foram a principal razão.

O filme trouxe à baila um assunto que não por coincidência eu havia discutido com uma das minhas melhores amigas no dia anterior (sou uma dessas pessoas sortudas que tem melhores amigas de longa data, as quais são fontes inesgotáveis de conversas não só divertidas e acolhedoras como também instigantes e inteligentes): a relevância do trabalho dos médicos.

Comentávamos que nada parece ser mais importante e essencial do que a atividade exercida por um médico. Comparados à medicina nossos próprios trabalhos e alguns outros que imaginamos pareciam não fazer grande diferença, pois partíamos da premissa de que no fim o que realmente importa é o que alguém pode fazer por você ou por alguém querido quando o assunto é vida ou morte.

Claro que estávamos pensando naqueles médicos que tratam seus pacientes sem preconceitos e com o respeito e a dignidade que lhes são devidos não só pela sua condição de seres humanos mas principalmente por serem pessoas que estão mais vulneráveis e fragilizadas pelos males que as afligem no momento em que procuram ajuda médica. E é exatamente esse tipo de médico que aparece no filme.

Após voltar do hospital onde estou tratando um pequeno acidente de percurso, eu contava para a minha amiga como estava feliz com o tratamento que vinha recebendo desde o dia em que procurei o pronto socorro. Naquela ocasião confesso ter ficado impressionada e aliviada com a acolhida de todos, da recepcionista ao médico. Mais do que simpáticos, gentis e eficientes, eles pareciam sensíveis ao fato de eu poder estar tensa com a situação e voluntariamente procuravam me tranquilizar. Além disso, a calma e a atenção do médico foram fundamentais para que eu saísse de lá segura de que, após quase uma semana de outros tratamentos que não estavam funcionando, agora eu estava no caminho certo.

As idas subsequentes ao hospital e o contato com outros médicos e médicas da equipe só confirmaram a sensação de empatia e aumentaram minha admiração pela maneira pela qual eles exercem a medicina naquele local.

Mas além da minha satisfação na qualidade de paciente (e de ser humano), eu e a minha amiga conversávamos sobre o outro lado, ou seja, o do médico. Imaginávamos que deve ser uma sensação ímpar ver um paciente sorrindo como eu sorri de alegria ao perceber o quanto estava melhorando. Por que, de novo, o que pode ser mais importante do que resolver os males de alguém, sejam eles resultado de uma doença ou de um acidente?

Felizmente essa não foi minha única experiência com médicos que muito mais do que executarem procedimentos agem como seres humanos conscientes de estarem com a vida de outros seres humanos em suas mãos e posso dizer que a mais importante delas já dura pelo menos trinta e cinco anos. Mas isso é outro roteiro. Por enquanto, o filme do título deve bastar. 

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