domingo, 9 de julho de 2017

I´m Old Fashioned

O incômodo que as redes sociais e que a conexão virtual permanente me causam não é de agora e mesmo sendo algo que me acompanha há tempos ainda não aprendi a lidar com ele.

Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp e afins são todas ferramentas que me deixam confusa e ansiosa, e isso só para dizer o mínimo.

Confusa provavelmente pelo excesso de estímulos fugazes e quase que inteiramente desprovidos de significado e de honestidade (afinal quem nunca ficou um pouco atarantado diante da discrepância entre as vidas virtual e real de algumas pessoas) e ansiosa pela própria confusão em si, pelo excesso de eventos que pipocam na tela do meu celular e dos quais sei que não vou ou, pior, talvez não queira dar conta, pelas mensagens em potencial que posso vir a receber ou a enviar em praticamente qualquer lugar e a qualquer tempo e principalmente pela sensação de tédio e de vazio que fatalmente surge quando acabo de acessar uma rede social.

Resumindo, o mundo contemporâneo "tá puxado" pra mim; tão difícil que ainda fico perplexa com declarações como a de Mark Zuckerberg de que o Facebook poderia preencher o vazio deixado nas vidas das pessoas pelo declínio das igrejas e de outras instituições (Mark Zuckerberg, the Churck of Facebook can never be. Here´s why) ou com a exposição de momentos que do meu ponto de vista e apesar de todas as mudanças que a tecnologia tem provocado na nossa forma de pensar e de agir permanecem sendo íntimos, a exemplo de um jantar a dois.   

E não para por aí. O que pensar e como agir diante da frustração e da decepção quando a ampla possibilidade de comunicação virtual permite que a despeito das muitas e muitas palavras "tecladas" no WhatsApp pessoas que de fato não querem revelar e aprofundar coisa alguma adotem um comportamento quase esquizoide com relação a outros seres humanos mais propensos à interação à moda antiga?

A pior das situações contudo talvez seja aquela na qual você se surpreende com o seu próprio comportamento. Durante uma viagem recente me vi conectada de forma quase obsessiva. Trens, restaurantes, bares, cafés, museus, shoppings, lojas e até algumas ruas, havia conexão WiFi gratuita por toda parte e alimentei sem restrições o monstro da internet que mora em mim. Mesmo percebendo que o monstro engordava e ficava cada vez mais pesado eu não conseguia parar de dar os petiscos que ele pedia, nem mesmo quando conscientemente tirei uma foto com o objetivo exclusivo de postá-la no Instagram e simultaneamente me perguntei em que tipo de idiota eu estava me transformando. Ignorei a questão, postei a foto e alguns dias depois de voltar de viagem e de amargar um certo mal-estar com relação a esse assunto admiti que não tenho a menor condição de carregar o monstrengo da conexão ostensiva, quem dirá de alimentá-lo.

Comparando minha última viagem com todas as outras que fiz tive que admitir que curti muito menos tudo e todos por não estar totalmente em mim. Principalmente quem já viajou sozinho nos anos em que smartphones e conexões WiFi não estavam sequer nos nossos sonhos provavelmente sabe do que estou falando. Viajar significava focar na sua relação com a viagem e com tudo o que ela implicava (novos lugares, cheiros, paisagens, pessoas, gostos, sons etc. etc.) e nada mais. Eventualmente você ia até um telefone público ou, a uma certa altura da história, usava o computador do hotel ou de uma lan house para dizer aos seus familiares que estava vivo. Fora isso era você e o mundo novo a sua volta, sem dispersões.

Veja, mesmo que o Mark Zuckerberg suba a escadaria da Penha gritando aos quatro ventos que o Facebook será capaz de preencher o vazio que existe hoje na vida das pessoas isso é algo que nunca acontecerá pois ninguém é capaz de se sentir inteiro se não estiver focado e conectado consigo mesmo, o que é exatamente o oposto da proposta do Facebook e de todas as redes sociais das quais tenho notícia atualmente. Foco nada mais é do que liberdade e integralidade, coisas que não estão disponíveis na internet.

Certa vez me disseram que apesar de parecer moderna sou conservadora. Fiquei chocada num primeiro momento e depois passei a pensar no assunto sem concluir muita coisa. Hoje eu até gostaria que fosse apenas saudosismo ou nostalgia mas arrisco dizer que em certos aspectos o mundo como o conheci há alguns anos era melhor e mais interessante e, se isso era o que faltava para reconhecer o fato, admito, sob o som de John Coltrane, que sim, I´m old fashioned.

P.S.: O título deste post foi inspirado na música de mesmo nome composta por Jerome Kern com letras de Johnny Mercer e gravada, dentre outros, por John Coltrane no álbum Blue Train.

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